Back to war...

Um cenário negro, uma sala muito pouco iluminada em que nada ajuda a mobília velha e já gasta que lá “habitava”. Próximo do centro da sala, havia um sofá de pele já com vários pontos rotos.

Suores frios corriam pela face de um indivíduo que permanecia imóvel deitado em cima do mesmo…

???: Engraçado, para heróis nacionais saltaram muito cedo do barco…

Esboça um sorriso.

???: Pouco mais que vencer um combate precisei de fazer para que isso acontecesse.

Não se contém e agora sim solta algumas gargalhadas de contentamento.

???: Pergunto-me se todas as pessoas do mundo fossem como esses lutadores de meia tigela, onde é que nós estaríamos…

Apresenta agora uma face mais séria.

???: Não é que estejamos bem, mas podia ser tudo muito pior. E se todos fossemos como estes miseráveis e ganhássemos todos a vida a andar á pancada uns com os outros?

Fica algo pensativo com a questão que acabara de fazer.

???: Bem, finalmente essa merda já foi toda ao fundo e finalmente esses tipos vão ter de trabalhar de forma digna para ganhar a vida.

Pega no comando que estava pousado ao seu lado no sofá e liga a televisão.

???: Enfim, vamos lá distrairmo-nos um bocad…FODA-SE! OUTRA? CARALHO QUE ELES NÃO DESISTEM!

Acabara de ver outro anuncio na televisão sobre a criação de mais uma federação de wrestling.

???: É mesmo como eu digo, são uns inúteis que não sabem o significado da vida.

Volta a esboçar um sorriso.

???: Que se lixe, parece que vou voltar ao mundo do wrestling…

E entra num mar de gargalhadas sinistras.

Num belo jardim na zona de Lisboa, encontrava-se Gunner relaxadamente a ler o seu jornal diário. Quer dizer, relaxadamente é como quem diz…visto ser fim-de-semana, o que havia mais era movimentação por aqueles lados, embora naquele momento não fosse o que importasse mais á nova aquisição da NVW.

Gunner (a ler o jornal): “Bento XVI dá graças em Praga pela queda do comunismo”…bah, cambada de idiotas. Como é que ainda há pessoas que acreditam na religião? Se deus existisse, o mundo não estaria a merda que está hoje.

Esfolheia o jornal com um ágil movimento de mãos.

Gunner: Vamos lá ver…”70 mil grávidas aconselhadas a vacinar-se contra a gripe A”. Fazem bem, fazem bem. Essa praga mais dia menos dia vai acabar, mas todo o cuidado é pouco.

Volta a esfolhear o jornal.

Gunner: “Eleições ao rubr…”, não, estes ladrões? Nem me atrevo a ler o resto do titulo. Em vez de levarem o país em frente, apenas o destroiem.

De repente, surge um adolescente em frente a Gunner.

Adolescente (tentando ganhar a atenção de Gunner): Desculpe, é o jornal de hoje?

Gunner acena com a cabeça afirmativamente.

Adolescente (sentando-se ao lado de Gunner): Será que…posso dar uma vista de olhos na zona desportiva, se faz favor?

Gunner entrega o jornal ao adolescente sem pronunciar uma única palavra.

Adolescente (esfolheando o jornal á procura da zona desportiva): Muito obrigado, senhor…

Assim que descobre a zona desportiva, põe-se a ler para si mesmo com bastante atenção enquanto Gunner apreciava a bela paisagem em seu redor.

Adolescente: Yeahh, finalmente! O primeiro show da NVW foi finalmente anunciado!

O adolescente chama a atenção de Gunner com este histerismo todo á volta da noticia da NVW.

Gunner: Ah, também gostas disso?

Adolescente: Eu? Claro! Wrestling é o máximo!

Gunner: E se eu te disser que sou um lutador de wrestling…acreditavas?

O adolescente mostra-se algo confuso com a questão imposta por Gunner.

Adolescente: Porquê?

Gunner: Porque sou. Procura aí no jornal por Gunner…

Após vários segundos de árdua leitura do jovem adolescente, acaba por encontrar a tão esperada palavra e levanta-se de rompate bastante excitado.

Adolescente (saltando de alegria): Conheci um wrestler a sério! Yeahhh! Os meus colegas vão ficar cheios de inveja!

Gunner (sorrindo forçadamente): Então quer dizer que sou um herói para ti?

Adolescente: Claro!

Gunner (falando entre dentes): Cambada de idiotas, vou ter mesmo de abrir os olhos a esta gentinha, seja a bem...ou a mal.

Adolescente: Bem, pode-me dar um autógrafo?

Gunner: Adoraria mas...tenho comprimissos e já estou atrasado. Se me dás licença...

Adolescente (desolado): Mas...

Não dando hipótese ao adolescente de lhe responder, Gunner sai imediatamente daquele local com uma cara de quem não havia gostado do que acabara de ouvir.

Cam On

A câmara focava uma televisão antiga conforme ía fazendo zoom. Na televisão, iam passando imagens de momentos de guerra, provavelmente no estrangeiro…

“PUMMMMMMMMMM!”

Uma grande explosão é mostrada na televisão e a imagem estremece bastante. Vêem-se pessoas a arder, outras caídas no chão já mortas, e as restantes a fugirem do local. Poucos segundos depois, ouve-se os passos de alguém a aproximar-se da televisão e a desligar o DVD. De seguida, a câmara para de filmar a velha televisão e surge agora no centro da imagem única e exclusivamente a face de Gunner que apresentava um sorriso contagiante.

Gunner: Viram aquilo? Foi ou não foi do caraças?

Abana a câmara para cima e para baixo para dar a sensação de um “sim”.

Gunner: Adivinhem quem é autor daquele pequeno filme…

O sorriso desaparece de imediato da face de Gunner sendo substituído por um olhar distante.

Gunner (pensando nas imagens do filme): Fui eu…fui eu que gravei aquela merda, vivi aquela merda, e tenho coragem para mostrar aquela merda aqui hoje.

Surgem pequenas lágrimas nos cantos dos olhos de Gunner, mas este rapidamente disfarça passando levemente a mão pela cara.

Gunner: Vocês não percebem, ninguém percebe! Só quem lá está é que sabe o que se sente…

Coloca a mão no bolso e retira um pequeno papel onde estava escrito um número de telefone.

Gunner: Qual stress pós-guerra qual quê…psicólogos é para gente fraca de espírito que não consegue lutar contra os próprios fantasmas.

Volta a colocar a mão ao bolso, e volta a retirar um papel mas desta vez estava escrito “Gunner vs. McGrawl vs. Mr. Kiz”.

Gunner: Mas cá eu nunca neguei uma bela gargalhada, e se há algo que me faz verdadeiramente rir, são pessoas que dão entrevistas a fazerem promessas que não podem cumprir e no final fazerem joguinhos de terror para tentarem intimidar os adversários…

Aproxima a câmara ainda mais da sua cara ficando agora apenas visível os seus olhos castanhos.

Gunner: É sempre uma boa estratégia, caso eu seja um mero jogador de xadrez que falha mais jogadas de vida do que as que acerta, mas como não sou, vê-nos amanhã. Até lá.

E a câmara vai fazendo zoom out enquando a imagem desvanece.

Cam Off