Mark Hayes

Era mais um dia, daqueles dias que só apetece partir tudo o que vemos à nossa frente. Mais uma vez chegava a casa, mais uma vez tinha falhado, entro no meu prédio, vestia um grande casaco preto, umas calças de ganga e umas botas. Também trazia um chapéu de chuva, mau tempo lá fora, para outra pessoa seria um encanto chegar a casa depois de um temporal e deitar-se a ver televisão no quentinho, mas não. Subi as escadas, parei logo nas primeiras portas, virei à esquerda e entrei.

Estava em casa, ao contrário que outros pensariam a minha casa não é um mar de rosas. Quase não há mobília! Sim, dentro de um homem que parece ter tudo o que precisa, há um grande pobre tanas! Alguém que nem uma vida consegue ter! Tiro o meu único casaco e meto em cima da única mesa daquela casa. Sento-me e meto as mãos na cara. Que falhanço que sou! De um momento para o outro toca a campainha. Levanto-me e vou lá... Abro a porta, era uma mulher. De cabelo castanho, bem agasalhada, olhos azuis, cor branca. A minha mãe.

Mãe: Filho...

Mark: Porque não entraste logo? Acho que te tinha dado a chave...

Mãe: Isso não importa! Conseguiste o emprego?

Mark: Não, sou um falhanço mãe.

Mãe: Não sejas assim Mark!

Mark: Tenho de ser mãe! Já viste o que só ainda consegui? Isto? Esta merda? Vocês merecem mais! Muito mais, depois de tudo...

Mãe: Mark! Tu não nos deves nada...

Mark: Devo sim, não vos vou deixar viver naquela barraca.

Eu e a minha familia desde o meu nascimento que moravam numa pequena casa no campo, as condições não eram as melhores mas foi ai que nasci, mas não posso deixar que eles continuem a viver lá. Tenho de melhorar a condição de vida dos meus pais, depois de tudo o que eles fizeram para me alimentar.

Mãe: Filho, tu mal tens dinheiro para pagar a renda. Desiste de isto tudo, de tentar orgulhar os teus pais. Nós temos orgulho por quem tu és! Não por quem queres ser. Não ficamos desapontados...

Mark: Mãe, isto não é só sobre vocês. Tenho de provar a mim. E irei conseguir, não sei como. Eu irei procurar mais empregos.

Mãe: E o wrestling? Eu sei que adoras, podias tentar...

Wrestling foi sempre o meu sonho desde criança, quando brincava, era wrestling. A minha TV, bem apesar de poucos canais, sempre que dava wrestling era o que todos tinham de ver. Mas esse sonho há muito que estava esquecido.

Mark: Mãe? Por favor, wrestling? Para que ganhar uns trocos? 5 euros? isso nem para um lanche me serve! É sempre impossível termos o que queremos, eu bem que queria tornar-me um wrestler profissional, mas é impossível, só para encontrar um emprego de jeito é o que é. Wrestling é 100 vezes pior que encontrar emprego.

Mãe: Então como vais fazer? É muito difícil manteres esta casa.

Mark: Logo verei, logo verei.

Mãe: Então não tenho mais nada que fazer aqui. Adeus.

Logo após a minha mãe sair, vou sentar-me numa das poucas cadeiras do sitio, tiro uma foto dentro duma gaveta da mesa. Era eu e o meu irmão falecido, nós com uns 10 e pouco anos, uma lágrima cai-me dos olhos. O que eu mais desejava era ter o meu irmão ao meu lado, um amigo como ele, com os mesmos gostos, para nos podermos ajudar um ao outro.

O meu irmão morreu quando tinha 16 anos, estávamos a vir do treino da primeira federação de wrestling onde entrei. Falávamos do dia que se tinha passado, contentes, eu passei a estrada, ele ficou um bocado para trás e foi atropelado. A primeira lágrima caiu, e seguida dela vieram muito mais e eu, mesmo sendo um homem calmo, dei um murro com tanta força na mesa, que foi sorte não se partir.

Passaram uns dias, as economias iam acabando, e Mark estava acabado, cansado, triste, enfim. A conversa com a sua mãe tinha sido motivo de pensamento nos últimos dias, o sonho de ser um lutador de wrestling começava a voltar. As memórias dos tempos com o seu irmão bombeavam na sua cabeça.

Deitado no sofá está ele, vestia uma camisola preta e umas calças de ganga olhando para tecto com um ar de pensamento, com a foto de ele e o seu irmão sobre o seu peito, passado uns segundos, ele levanta-se, arranja-se decentemente, e sai de casa. O dia, ao contrário do outro estava bastante agradável, calor, não muito, um pouco de vento, ideal para uma saída. Mark entra num sitio, parecia uma taberna, senta-se numa de várias cadeiras à frente do balcão. Ordena uma bebida. Mark não era muito de embebedar-se, talvez começasse a ser.

Ao lado do balcão, estava umas mesas, com algumas pessoas, e no topo de uma parede, uma televisão. Nesse momento passa um anuncio de wrestling, uma federação nova, neste país. As opiniões das pessoas dividiam-se.

Homem 1#: Wrestling? Ahah, isso é para miúdos!

Homem 2#: Eu não acho, até gosto de ver às vezes.

Mark, deu um pequeno sorriso e continuou a beber. Mas então, dá lhe um vaipe e pergunta ao homem do balcão.

Mark: Você por acaso sabe onde é que essa federação fica?

Homem: Por acaso, até sei. É aqui perto (...)

Mark agradece as instruções, paga e sai da taberna. Lá fora ele mete as mãos na testa.

Mark: Que estúpido que sou. Ahah

Nesse exacto momento, o seu telefone toca, só por acaso era daqueles Nokia antigos em que se costumava jogar Snake. Mark leva o telefone à orelha. Era o seu pai.

Pai : Filho, é a tua mãe...

O ar de Mark muda completamente.Começa a correr, a correr muito, visto não tem nenhum carro, chega a um hospital, entra, sempre apreçado, e vai ter com o seu pai. Passando pelas pessoas todas do hospital, chocando nelas, mas sempre sem parar.

Mark: Como é que ela está? (cansado)

Pai: Não sei, o médico ainda não falou comigo, ela estava em casa e desmaiou, eu não sabia o que fazer. (...)

Nesse momento entra um médico. Ele diz que quer falar com o Pai de Mark sobre a Mãe. Então ele vai. Mark cá fora está em tremendo pânico. Treme por todos os lados. O seu pai finalmente sai, tremendo e cheio de lágrimas...

Pai: Mark... É muito mau. A tua mãe tem uma doença muito grave, é preciso muito dinheiro para a conseguir curar. Mais do que tu ou eu conseguimos a arranjar... (chora)

Nesse momento, Mark sabia o que queria, uma vez na vida, determinado, ele sai do hospital a correr, passando pelas mesmas pessoas, mas agora estava diferente, soando por todos os lados, ele finalmente chega aonde quer. O letreiro do edifício dizia National Vanguard Wrestling. O seu futuro.

Mark não podia acreditar, ele finalmente era uma wrestler! DE VERDADE! Ele nunca tinha estado tão feliz na sua vida. Os problemas financeiros iam acabar, a sua mãe ia ser operada, com o seu dinheiro, o seu sonho ia ser concretizado. O melhor que podia acontecer na sua vida. Mark passava agora os dias a treinar o seu corpo, a pensar na forma que iria falar com os jornalistas! Apesar de tudo, ele agora tambem era famoso. Irónico que alguns dias atrás ele é da classe social mais parecida com os mendigos, agora é famoso!

Mark apenas se imaginava no ringue, a fazer uma entrada de outro mundo, o público a...! O PÚBLICO! O que iria pensar dele? Um fraco? Um herói? Um badass? Excitante! O seu irmão deve estar orgulhoso neste momento.
Entretanto, uma câmara liga-se, a imagem mostrava um sofá, e sentado nele estava Mark, vestido com um casaco de "motoqueiro" a tentar parecer badass. Com o cabelo cheio de gel para cima, e umas calças da moda. Ele tinha um comando na mão, parecendo que passava uma repetição. Quando chega ao sitio onde ele quer para.


Mark Hayes: Humm! Interessante (tentando fazer um ar de mauzão) Este vai ser o meu primeiro objectivo nesta federação, esta medalha. Vou ganhar este torneio de cáca. E receber este objecto, que pertencia ao grande. Sérgio "O Tanque" Sousa! Agora vai ser meu! E os outros wrestlers que se lixem. EU SOU O MAIOR!

Atrapalhado ele desliga a câmara. Esboça um sorriso, e sai de casa. Ele vai à federação, coisa que tem feito nos dias anteriores. Tão ansioso que está que vai lá todos os dias. Entretanto, à frente da entrada da federação está uma maré de pessoas, jornalistas etc. Mark sente que este é o momento para aparecer e vai lá, atravessa pela multidão. Levando muitos encontrões, mas finalmente chega ao destino. Põe o ar de "mauzão" e avança.

Jornalista: As pessoas estão muito curiosas quanto a esta nova federação! Que parece que vai renascer o wrestling português. Está muito difícil contactar com qualquer individuo da federação mas...

Nesse momento Mark aparece à frente da câmara, ajeita-se e prepara-se para falar.

Jornalista: Desculpe, quem é você senhor? (incomodada)

Mark: (desajeitado) O meu nome é Mark. Mark "The Falcon" Hayes, sou um wrestler desta federação!

Jornalista: Curioso, não se importa que faça umas perguntas então?

Mark: Vá em frente.

Jornalista: Visto que o primeiro show está para vir, o que acha?

Mark: Só sei que vou ganhar, porque eu sou o maior! (erguendo o pescoço)

Jornalista: (Pensando " Olha-me este") Onde se apoia para dizer isso?

Mark: (sendo empurrado) Não se vê logo? Tenho estilo, músculos, sei lutar, por favor!

Jornalista: Claro, claro. Então o que tem a dizer do torneio, pela medalha do "Tanque"

Mark: Curiosamente, ia para cá para isso. Mas visto que isto é em directo e isso tudo falo já. (tossindo) Eduardo "O Veloz". Prepara-te porque o "The Falcon" vai entrar nessa torneio e vai arrebentar todos os wrestlers que participarem! MUAHAHAHA

Entretanto, Mark leva empurrões e sai de cena, parece que lhe ninguém deu importância, ninguém acreditou que ele um wrestler de verdade. Mas Mark sabe, que quando aparecer no ringue, todos iam ver no que ele realmente bom, no wrestling.

???: Toma

???: Cala-te

2 jovens. Com um grande futuro pela frente, aparentemente. Um com olhos azuis, cabelo castanho mais ou menos comprido, com uma "camisinha" e umas calças azuis. Outro com o cabelo preto curto, olhos verdes, também com uma camisinha, e umas calças. Numa espécie de jardim ou lá o que era aquilo. Cheios de terra pelo corpo todo. Dando golpes pelo ar com uma satisfação do caraças. Com uns 10 anos, ou menos. Rindo, o de cabelo preto atira-se para cima do outro, e rebolam no chão verde. Com alegria.

Entretanto vindo do lado pelo que o sol se punha, uma mulher de uns 30 e tal anos. Com uma espécie de avental daqueles mais "ranhosos". E umas calças rasgadas. Era o que dava para desenrascar. Quando vê que os miúdos estavam todos sujos, ela fica chateada. Não chateada, chateada. Ela chega ao pé dos miudos, cruza as mãos, mete uma cara de má e fala.

Mulher: Meninos! Lá vou ter eu de lavar a roupa no tanque. Venham mas é para casa jantar.

Os dois em coro: pff

Mulher: Vá! Venham já e pode ser que vos deixe ver o que quiserem na televisão.

A cara dos miúdos muda completamente, raramente podiam ver o que quisessem, raramente podiam ver televisão! Então lá vão eles.

Chegam a uma casa, não sei se ei-de chamar aquilo de casa. Péssimas condições, paredes todas destruídas, enfim. Os miúdos e a mãe sobem uns degraus feitos de 2 pedras e entram naquela casa. O aspecto interior era o mesmo que o exterior, talvez pior, parecia que tinhas voltado à idade da pedra.

Tudo muito destruído... Os miúdos então vão para a mesa, uma mesa redonda muito pequena, e comem 2 sandes de manteiga. Os seus pais raramente comiam, preferiam deixar para os filhos, a roupa, a comida, a TV... Eles eram o futuro. Depois de comerem os miúdos vão para a "sala" sentam-se no sofá. E vêm televisão, a televisão era uma pequena, provavelmente encontrada no lixo. Raramente dava, falhava muitas vezes.

Então começa a dar, um desporto, wrestling. Era espanhol. Havia 2 homens, um com uma mascara vermelha a tapar a cara e mais baixo, e outro, mais forte, mais musculoso. Eles lutam, o grande sempre consegue dominar o mascarado.

Mark: Vai, El Mascarado! Atira-te para cima dele!

???: Não sejas tótó. É obvio que o Tanque vai ganhar. O outro mal consegue atira-lo ao chão.

Entretanto o forte atira o mascarado ao chão. Vai fazer o cover, parece que o mascarado está fraco de mais para resistir! 1... 2... zzzzzzzzzzz. A televisão vai abaixo, os miudos ficam muito tristes.

???: Eu juro! Que um dia, irei ser um wrestler profissional, vou tirar a mãe e o pai desta porcaria de vida. Vou lhes dar comida, roupa, tudo o que eles nos deram.

Mark: Eu também!

Sendo assim, os miudos vão dormir, com aquela ideia na cabeça.

Quem diria que isso ia acontecer. Mas de uma maneira diferente.